Herbert De Jesus Santos (**)
Pelo que venho clamando no deserto,
estão tentando matar a Poesia,
em troca do poder mais abjeto,
aceitam, letal, sua asfixia.
Seus cavaleiros bateram em retirada,
porque se deixando a Terra Santa aos infiéis,
só temos notícias das cruzadas
e dos homens que luziam seus lauréis!
Com medo de culpar palácios,
agora, não são mais do que piões,
ou capachos do humor dos paços:
Palácio do Governo – o dos Leões;
Clóvis Beviláqua – o da Justiça;
La Ravardière – a Prefeitura;
Arcebispado da Sé;
Manuel Beckman – Assembléia;
Câmara – Pedro Neiva de Santana,
que, fazendo jus ao meritório,
com a cara na palma na mão,
todos têm culpa no cartório
pelo atraso social do Maranhão.
São tão culpados quanto os palácios,
os que permitem o descalabro
que massacram a população.
Não há nenhum levante de pena,
como valiam a pena os de antanho.
Há menos ovelhas com catecismo
e mais analfabetismo no rebanho.
Mais propaganda enganosa,
com riqueza na televisão,
pois a miséria, em rebordosa,
tem 70 por cento no chão.
Adestram a burra escabrosa,
que come do povo o pão.
A saúde pública bem-sucateada,
e a particular, em mansão,
o pobre morre na estrada,
sem um bom hospital no rincão.
Poetas, que defendiam as nossas cores,
que eram os Campeões da Cidade,
pois tomavam, ao menor ai, as suas dores,
e não consentiam a falsidade,
são mais conferidos nos dedos,
os que combatem o bom combate.
Não têm mais saco nem âmago,
para a causa devida:
ou pensam com o estômago,
ou só pensam nele na lida.
Tiram de letra tanto a Academia,
que podia ser gigante, e encolheu
(como tentam matar a poesia,
por egocentrismo fariseu),
ao chão, onde seria cumeeira,
se ao bem-comum desatasse os nós,
porque covarde não ergue nossa Bandeira
do Povo, que só é mortalha para heróis!
Até a plebe de Roma
era cerebral em premissa
de que só em estado de coma,
não há Direito e Justiça.
Aqui, há mais guabirus
que urubus na carniça!
Mesmo na Roma de “causa cessou”,
nem “deus” matava o vencedor!
Não dava a César o gladiador
que vencia a morte na arena,
a massa fazia até imperador
respeitar a sua sentença.
“César, os que vão morrer te saúdam”!,
era mais honra aos que melhor lutavam.
Por distinção de classes, ou defeitos,
para quem nunca mostra o rabo –
ricos, sabe Deus como, são seus eleitos! –,
pois a maioria, pobres-diabos!
Por isso, tentam matar a Poesia,
que não deixa o Povo na mão,
e luta por ele, e a mentira não consentiria
de “Viver é bom demais no Maranhão!”
Aqui, os césares de igual rancor
só querem dar ao Povo rumo (in)certo:
o pão que o Diabo amassou
e um imenso circo a céu aberto!
(*) Poema do livro São Luís em PreAmar: Ainda Assim, há um Azul!, de 2005.
(**)Jornalista, poeta e do IHGM
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